Nota Missionária de um Leigo Sacramentino
Manhurimim, 16 de novembro de 2012
É difícil
falar e escrever sobre o dia de hoje. De certa forma, abro mão de ser professor
para, simplesmente, me utilizar das palavras com liberdade e pouco esmero em
suas vastas possibilidades. Irei apenas escrevendo o que meu coração me inspira
e minha memória ajuda.
Na verdade
esta história começou muito antes, em meus tempos de criança e pré-adolescência
vividos no CNSG de Patos de Minas, onde as irmãs sacramentinas me falavam de um
homem com muito amor, coragem e devoção incomuns... Lá descobri Padre Júlio
Maria de Lombaerde... uma névoa que um garoto de doze anos pouco podia
compreender, mas entoava, animado, o canto que nos era ensinado... “Padre
Júlio Maria Lombaerde, é chegado o momento de glória, o teu nome, para sempre,
há de ser relembrado na história”...
Ouvia também
falar de um lugar mágico e místico: Manhumirim!
Era 1989 e
meu coração desejou conhecer as terras em que este desbravador pisou, mas o
tempo ainda não era propicio. Anos se passaram... O garoto cresceu e pôde
descobrir ainda mais sobre esse profeta do Amor - Sacrifício.
A vida me
presenteou com algo surpreendente: o de ser alguém que deveria louvá-lo e
fazê-lo reviver diante de toda uma geração de novos alunos e alunas
sacramentinos, no Colégio Nossa Senhora das Graças.
E uma palavra
que ouvia da boca de tantos ainda me era estranha e distante: MANHUMIRIM.
Essa palavra significa rio pequeno, e justamente lá, no rio pequeno, ouvi dizer
que um homem fizera grandes coisas. Fiz-me discípulo do Padre Júlio Maria,
através dos escritos daqueles que com ele conviveram, com as constantes
referências feitas pelas irmãs sacramentinas e pelo Jornal O Lutador. Muitos
partiam para lá, voltavam e me traziam histórias, mas ainda não era chegada
minha hora de te conhecer, Manhumirim...
Era
necessário que uma expectativa tão grande acontecesse em um momento ímpar da
história desse missionário sem igual.
E eis que o
centenário de sua chegada ao Brasil comemora-se em 2012. E neste ano da Graça
do Senhor me é concedida então uma oportunidade, mas não uma qualquer... Junto
de meus irmãos e irmãs - os Missionários Leigos Sacramentinos - nos reunimos na
Casa Mãe das Irmãs Sacramentinas. Acolhidos por suas filhas com sorrisos e
abraços.
Caminhamos
por onde Padre Júlio e Madre Beatriz pisaram, onde lágrimas foram derramadas e
novos horizontes sonhados, sem fronteiras... Onde animadas noviças se
entregavam à causa dos mais pobres e buscavam ser instrumentos a serviço de
Deus e da Igreja. Jovens moços de toda região vinham em busca de sua vocação e
eram apanhados nas palavras firmes e cheias de zelo do sacramentino do Amor -
Sacrifício.
Onde duelou
com a sociedade de seu tempo, combateu os apóstatas e cuidou dos mais frágeis.
Diante da ignorância do povo, fez escolas. Diante da solidão dos pequeninos do
Reino, fez um patronato. Ao ver idosos abandonados, fez um asilo. Saúde era
privilegio dos mais abastados e não teve dúvidas: fez um hospital para atender
os pobres. Mas isso não era suficiente, era preciso esclarecer o povo a
respeito da verdade do evangelho, afugentar e exortar acerca dos falsos
profetas e do pecado. Era apóstolo de Maria e um defensor incansável da
Eucaristia. Escreveu e escreveu, em francês, em português, pregou a todos, não
se intimidou com ninguém. Fundou um Jornal e uma gráfica que traduziram sua
vida: O Lutador.
Esse é o
homem que hoje, realmente, conheci e aprendi ainda mais a amar e a respeitar.
Ver seus traços em cada obra, em cada espaço dedicado à Virgem e em sua
profunda fé eucarística nos apontam para a riqueza desta cidade: Manhumirim...
Diz o autor sagrado: “e tu Belém, não és de forma alguma a menor das cidades de
Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo” Mt 2, 6.
Guardadas, claro, as devidas proporções, imagino que Deus tinha uma surpresa
para essa pequena cidade do leste Mineiro: não ficarás devendo nada a tantas
cidades que ofertaram santos ao mundo, como Pádua ou Assis. Desse solo
inclinado e que aponta para o alto, lhes concederei um filho sem igual, esse
será um justo e confessará meu nome por onde for.
E assim
foi... Esse homem que nasceu do outro lado do Atlântico e ouvira, desde menino,
o chamado de Deus em sua vida, e possivelmente não imaginaria que sua vida
estivesse destinada às matas e florestas do norte do Brasil, ao intenso calor
do nordeste e às montanhas das gerais. Ele se entregou onde lhe era apontado; obedecia
sem questionar; fez muito com pouco. Um gigante de passos firmes, voz poderosa
e aguçada percepção. Estava à frente de seu tempo, mas não abria mão do
essencial: a fé e a coragem de fazer o Projeto de Deus acontecer onde quer que
estivesse.
Hoje meu
coração se alegra e também se inquieta ao pensar...
Qual legado
deixarei? Não fundei congregações e tão pouco fiz grandes obras.
Mas tem algo
que sei que posso fazer: carregar e multiplicar a visão sacramentina, ser
verdadeiramente um apóstolo de Jesus e de Maria. Não duvidar de que o Amor –
Sacrifício é a forma mais sublime de se viver e fazer o Evangelho
acontecer. E onde pisar um filho ou filha espiritual do Pe. Júlio Maria,
saberemos que seu sonho vai se consolidando e se espalhando por todo o mundo.
Obrigado,
Padre Júlio, por ter me escolhido como seu vocacionado e que eu seja digno de
honrar sua vida e missão como missionário leigo sacramentino!!!
Braz Paulo, 23h42min,
neste ano de Graças.
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