Sejam Bem Vidos!!!

A vida é presente de Deus! Cuidar bem dela é nosso dever. Dar sentido à vida é uma opção que cada pessoa faz. Este blogger apresenta para você oportunidades de conhecer nossa missão.

domingo, 26 de novembro de 2017

REALEZA QUE SE REVELA NO SERVIÇO



“...todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes”


Rei, título inapropriado para Aquele que tocou leprosos, que preferiu a companhia dos excluídos e não dos poderosos do povo, que lavou os pés dos seus discípulos, que não tinha riqueza nem poder...
O senhorio de Jesus foi a do amor incondicional, do compromisso com os mais pobres e sofredores, da liberdade e da justiça, da solidariedade e da misericórdia...
Com sua palavra e sua vida Ele afirmou que “não veio para ser servido, mas para servir”. Por isso, assumiu uma posição crítica frente a todo poder desumanizador.
A festa de “Cristo Rei”, que encerra o Ano Litúrgico, pode ser ocasião propícia para “transgredir” nossa concepção de “rei” e “reinado”, e evitar um triunfalismo religioso, pura imitação dos reis deste mundo que vivem às custas da exploração dos seus súditos.

Jesus nunca se proclamou rei; o que Ele fez foi colocar-se a serviço total do Reino, de forma que este foi o centro mesmo de sua pregação e de sua vida, a Causa pela qual estava apaixonado e pela qual deu sua vida. Importa, pois, honrar a verdadeira identidade de Jesus: Ele não foi rei, nem quis ser nunca, por mais que alguns cristãos crêem que chamando-o assim prestam-lhe as devidas honras. A melhor honra que devemos prestar a Jesus é prolongar seu modo de ser e de viver. É preciso voltar a Jesus e sua Causa.
Se Jesus não foi rei historicamente, nem se chamou rei, nem deixou que lhe chamasse assim, recusou e se retirou quando queriam fazê-lo rei, tem sentido que nós o aclamemos com esse título? Por quê?

Jesus é Rei porque deixa transparecer sua “realeza”: o que é mais real, mais humano e divino, a sua verdade, seu ser verdadeiro... no mais profundo de si mesmo. Realeza que se visibilizava no encontro com o outro. A partir de seu ser verdadeiro, Jesus destravava e ativava a realeza escondida em cada um.

Este é o sentido profundo do título: ser Rei sem tomar o poder, sem exercê-lo com a força das armas, sem a pressão da justiça legal, sem prestígio, sem riqueza... Esta é a tarefa da nova humanidade, a promessa de um Reino do conhecimento verdadeiro, da igualdade e da justiça, da fraternidade e não violência..., para que todos sejam reis, no sentido radical da palavra.

Segundo o relato de Mateus, quando chegar o momento supremo, a hora da verdade definitiva, a única coisa que ficará de pé, o que somente será levado em conta como critério de salvação ou perdição, não vai ser nem a piedade, nem a religiosidade, nem as práticas espirituais, nem a fé, nem mesmo o que cada pessoa tiver feito ou deixado de fazer para com Deus; o que vai ser considerado é apenas uma coisa, a saber: o que cada um tiver feito ou deixado de fazer para com os seres humanos.

A fundamentação está no fato de que Jesus se identifica com cada ser humano, de maneira especial com aquele que mais sofre, vítima da violência, da exclusão, da pobreza, da humilhação... Essa identificação e essa fusão de Jesus com os humanos (“foi a mim que o fizestes”) é tão forte e tão decisiva que, no momento do encontro definitivo com Ele, o critério para entrar no Reino não é o que cada pessoa fez ou deixou de fazer “para” Deus, mas o que ela fez ou deixou de fazer “para” os seus semelhantes que cruzaram o seu caminho e que clamaram por uma presença solidária e compassiva.
Padre Adroaldo - sj


quinta-feira, 9 de novembro de 2017

A CONVERSÃO ECOLÓGICA NAS NOVAS GERAÇÕES E EM TODAS AS OUTRAS



O caminho a percorrer - II parte do texto do  Pe. Sergio Montes, sj
Tradução: Irmão Lauro Daros

Uma conversão ecológica integral parece ser o caminho que acompanha os processos e ações a favor do cuidado da “Casa Comum”. Tal como deseja o Papa, são necessários diálogos que se traduzam em políticas, linhas de ação concretas e eficazes, assim como uma nova consciência ecológica (LS 162ss). Além disso, precisa-se de uma educação e espiritualidade ecológicas, porque “muitas coisas têm de reorientar seu rumo, porém, antes de tudo, a humanidade necessita mudar. Faz falta a consciência de uma origem comum, de uma pertença mútua e de um futuro partilhado por todos” (LS 202).
Neste sentido, urge uma mudança de estilo de vida atual da humanidade, em geral, já que determinadas práticas, convicções e critérios são a causa de uma forma tóxica de viver para a criação em seu conjunto, e a responsabilidade primeira e última é da humanidade.
Em linhas gerais, propõe-se uma conversão ecológica integral, principalmente aos que creem no Deus da Vida “que implica deixar brotar todas as consequências do encontro com Jesus Cristo nas relações com o mundo que nos rodeia. Viver a vocação de ser protetores da obra de Deus é parte essencial de uma existência virtuosa, que não consiste em algo opcional, nem em um aspecto secundário da experiência cotidiana (LS 217).
Tal como o anúncio do Reino de Deus, que germina e se desdobra na história, a necessária conversão ecológica integral se expressa nos pequenos gestos que diariamente e a partir de uma profunda consciência ecológica se podem realizar. Claro que importam as grandes políticas, o redesenho do sistema político e econômico, a reconfiguração das relações danificadas; como também importam as simples ações de cada pessoa no cuidado e na relação com a natureza, com as irmãs e os irmãos e consigo mesma. Sem plantar o gérmen, será impossível pensar em uma transformação efetiva e esperar frutos.
As ações simples, como cuidar e controlar o consumo de água, a diminuição do consumo de energias, a geração e uso de outras fontes alternativas de energia limpa (solar, eólica), a não-contaminação visual e acústica, a simples e certa austeridade do consumo de bens, estilos de vida, uso da tecnologia, entre vários outros, podem ajudar a fazer a diferença, no sentido de que há uma relação direta entre a produção e o consumo que, em determinados âmbitos, resulta asfixiante e é o que ocasiona a deteriorização do Planeta.
A responsabilidade é de todos, seguramente, porém a consciência ecológica é um elemento que vai de mãos dadas com novas sensibilidades e conjunto de relações que são próprias das Novas Gerações. Não sem certa dose de ambiguidade, nas últimas décadas, a preocupação ecológica (parcial ou integral) tem se desdobrado em países de primeiro e terceiro mundo. De algum modo, a preocupação ecológica está presente em diversos âmbitos e grupos e vai alinhada com o questionamento do modelo econômico imperante.

As Novas Gerações são herdeiras do que a humanidade tem desenvolvido com força no último século, e de algum modo são portadoras do positivo e do negativo da crise ecológica. Por um lado, são maiores consumidoras de tecnologia e, por outro, se desdobram em campanhas de cuidado e conservação do meio ambiente, carinho e cuidado para com os animais e o consumo de alimentos saudáveis. Em outras palavras, é necessário que as Novas Gerações assumam a consciência de que alguns comportamentos estão reforçando a sobrevivência de sistemas culturais, econômicos e políticos que provocam a destruição da natureza para grande benefício de uns e a miséria de muitos. Por outro lado, vão desenvolvendo uma sensibilidade muito atenta às necessidades da natureza e são capazes de se comprometer voluntariamente em campanhas, organizações e grupos que apostam em alternativas contra a deteriorização e contaminação do meio ambiente, mesmo quando o impacto global pareça pouco significativo. É impensável e impossível crer que o desafio da conversão ecológica corresponde a determinadas gerações, mas é uma responsabilidade da humanidade em seu conjunto, de acordo com as possibilidades de cada geração. No entanto, o que cada geração herda à outra é de sua responsabilidade, no bom e no mau, e deve poder ajudar a melhorar o que causa dano à “Casa Comum”.
As Novas Gerações na VRC teriam de se tornar consciência permanente, para as outras gerações e para o mundo em geral, da importância de traduzir nossa fé no Deus Criador em formas práticas de cuidado e proteção do meio ambiente. Crer em Deus é crer na bondade e beleza de todo o criado e, portanto, ter a obrigação de cultivá-lo e cuidar dele. Sem a lucidez das Novas Gerações na VRC para chamar a atenção sobre o dano estrutural, para caminhar realizando ações concretas de mudança e transformação de nosso comportamento e pensamento anti-ecológico, o futuro das próximas gerações deste século estará obscuro e sem possibilidade de recuperação.

Um estilo de vida próximo dos pobres, marginalizados e explorados é fundamental para desenvolver esta consciência ecológica e viver a autêntica misericórdia. Tocar, ver, cheirar, assim como acompanhar, ajudar e apoiar as pessoas mais pobres que sofrem devido ao sistema injusto é a chave real para a conversão integral.
Somente sentindo a dor que sofrem milhões de pessoas, dia a dia, pela imposição de um modelo econômico que privilegia o ter sobre o ser e que cria desigualdade brutal, será possível uma autêntica conversão. Novamente podemos dizer que os pobres nos evangelizam, pois nos põem em contato direto com a realidade de sofrimento e dor do mundo inteiro. Sentir com os pobres do mundo é o melhor caminho para se comprometer com o cuidado integral de toda a criação.

Fonte: Revista CLAR. CONVERSÃO ECOLÓGICA. Bogotá: Editorial Kimpres.  Ano LIV – Número 4/ Outubro – Dezembro, 2016, p. 75-83.