O caminho a percorrer - II parte do texto do Pe. Sergio Montes, sj
Tradução: Irmão Lauro Daros
Uma conversão ecológica
integral parece ser o caminho que acompanha os processos e ações a favor do
cuidado da “Casa Comum”. Tal como deseja o Papa, são necessários diálogos que
se traduzam em políticas, linhas de ação concretas e eficazes, assim como uma nova
consciência ecológica (LS 162ss). Além disso, precisa-se de uma educação e
espiritualidade ecológicas, porque “muitas coisas têm de reorientar seu rumo,
porém, antes de tudo, a humanidade necessita mudar. Faz falta a consciência de
uma origem comum, de uma pertença mútua e de um futuro partilhado por todos”
(LS 202).
Neste sentido, urge uma
mudança de estilo de vida atual da humanidade, em geral, já que determinadas
práticas, convicções e critérios são a causa de uma forma tóxica de viver para
a criação em seu conjunto, e a responsabilidade primeira e última é da
humanidade.
Em linhas gerais, propõe-se
uma conversão ecológica integral, principalmente aos que creem no Deus da Vida
“que implica deixar brotar todas as consequências do encontro com Jesus Cristo
nas relações com o mundo que nos rodeia. Viver a vocação de ser protetores da
obra de Deus é parte essencial de uma existência virtuosa, que não consiste em
algo opcional, nem em um aspecto secundário da experiência cotidiana (LS 217).
Tal como o anúncio do Reino
de Deus, que germina e se desdobra na história, a necessária conversão
ecológica integral se expressa nos pequenos gestos que diariamente e a partir
de uma profunda consciência ecológica se podem realizar. Claro que importam as
grandes políticas, o redesenho do sistema político e econômico, a
reconfiguração das relações danificadas; como também importam as simples ações
de cada pessoa no cuidado e na relação com a natureza, com as irmãs e os irmãos
e consigo mesma. Sem plantar o gérmen, será impossível pensar em uma
transformação efetiva e esperar frutos.
As ações simples, como cuidar e
controlar o consumo de água, a diminuição do consumo de energias, a geração e
uso de outras fontes alternativas de energia limpa (solar, eólica), a
não-contaminação visual e acústica, a simples e certa austeridade do consumo de
bens, estilos de vida, uso da tecnologia, entre vários outros, podem ajudar a
fazer a diferença, no sentido de que há uma relação direta entre a produção e o
consumo que, em determinados âmbitos, resulta asfixiante e é o que ocasiona a
deteriorização do Planeta.
A responsabilidade é de todos,
seguramente, porém a consciência ecológica é um elemento que vai de mãos dadas
com novas sensibilidades e conjunto de relações que são próprias das Novas
Gerações. Não sem certa dose de ambiguidade, nas últimas décadas, a preocupação
ecológica (parcial ou integral) tem se desdobrado em países de primeiro e
terceiro mundo. De algum modo, a preocupação ecológica está presente em
diversos âmbitos e grupos e vai alinhada com o questionamento do modelo
econômico imperante.
As Novas Gerações são herdeiras do que
a humanidade tem desenvolvido com força no último século, e de algum modo são
portadoras do positivo e do negativo da crise ecológica. Por um lado, são
maiores consumidoras de tecnologia e, por outro, se desdobram em campanhas de
cuidado e conservação do meio ambiente, carinho e cuidado para com os animais e
o consumo de alimentos saudáveis. Em outras palavras, é necessário que as Novas
Gerações assumam a consciência de que alguns comportamentos estão reforçando a
sobrevivência de sistemas culturais, econômicos e políticos que provocam a
destruição da natureza para grande benefício de uns e a miséria de muitos. Por
outro lado, vão desenvolvendo uma sensibilidade muito atenta às necessidades da
natureza e são capazes de se comprometer voluntariamente em campanhas,
organizações e grupos que apostam em alternativas contra a deteriorização e
contaminação do meio ambiente, mesmo quando o impacto global pareça pouco
significativo. É impensável e impossível crer que o desafio da conversão
ecológica corresponde a determinadas gerações, mas é uma responsabilidade da
humanidade em seu conjunto, de acordo com as possibilidades de cada geração. No
entanto, o que cada geração herda à outra é de sua responsabilidade, no bom e
no mau, e deve poder ajudar a melhorar o que causa dano à “Casa Comum”.
As Novas Gerações na VRC teriam de se
tornar consciência permanente, para as outras gerações e para o mundo em geral,
da importância de traduzir nossa fé no Deus Criador em formas práticas de
cuidado e proteção do meio ambiente. Crer em Deus é crer na bondade e beleza de
todo o criado e, portanto, ter a obrigação de cultivá-lo e cuidar dele. Sem a
lucidez das Novas Gerações na VRC para chamar a atenção sobre o dano
estrutural, para caminhar realizando ações concretas de mudança e transformação
de nosso comportamento e pensamento anti-ecológico, o futuro das próximas
gerações deste século estará obscuro e sem possibilidade de recuperação.
Um estilo de vida próximo dos pobres,
marginalizados e explorados é fundamental para desenvolver esta consciência
ecológica e viver a autêntica misericórdia. Tocar, ver, cheirar, assim como
acompanhar, ajudar e apoiar as pessoas mais pobres que sofrem devido ao sistema
injusto é a chave real para a conversão integral.
Somente sentindo a dor que sofrem
milhões de pessoas, dia a dia, pela imposição de um modelo econômico que
privilegia o ter sobre o ser e que cria desigualdade brutal, será possível uma
autêntica conversão. Novamente podemos dizer que os pobres nos evangelizam,
pois nos põem em contato direto com a realidade de sofrimento e dor do mundo
inteiro. Sentir com os pobres do mundo é o melhor caminho para se comprometer
com o cuidado integral de toda a criação.
Fonte: Revista CLAR.
CONVERSÃO ECOLÓGICA. Bogotá: Editorial Kimpres.
Ano LIV – Número 4/ Outubro – Dezembro, 2016, p. 75-83.
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