“O Reino dos
Céus é semelhante a um negociante que anda em busca de pérolas preciosas”
As duas pequenas
parábolas de hoje nos remetem a uma questão, básica e universal, que acompanha
todo ser humano: qual é o “tesouro” de minha vida? Onde estou investindo minhas
energias e criatividade? O que dá sentido à minha existência e é capaz de
plenificar meu coração?
Essa “aspiração
essencial”, que habita o coração humano, é a que nos converte em “buscadores”.
E o que é que,
consciente ou inconscientemente, estamos buscando na vida?
As imagens do
tesouro e da pérola não se referem a algo “separado” que, a partir de fora,
viria dar sentido à nossa existência. O tesouro e a pérola é o que já somos,
embora ainda não os tenhamos descoberto. Em outras palavras, o “buscador é o
buscado”.
Na realidade, o que
andamos buscando é o nosso “eu verdadeiro”, o “eu profundo”, a “identidade
original”. Nesse sentido, só o que nos faz mais humanos, e na medida em que nos
faça mais humanos, plenificará nossa existência.
O dia em que isso
acontecer, vibraremos de alegria e seremos capazes de renunciar a outros
valores, critérios e expectativas que se revelavam efêmeros.
Mas, como podemos
encontrar o caminho que nos leva àquilo que tanto buscamos?
Jesus nos indica que é aquele que nos
leva às nossas próprias profundezas; portanto, um caminho de “descida” ao nosso
próprio santuário interior.
Lá, nos deparamos com
os lados sombrios, com nossos limites e nossas fragilidades humanas. Somos, como
diz S. Paulo, um tesouro em vasos de barro. Em nosso “húmus” carregamos uma
nobreza.
É justamente no
meio do cascalho interior que podemos encontrar o tesouro, a pérola preciosa; é
exatamente aqui que alcançamos nossa verdadeira identidade.
A pérola cresce nas
feridas da ostra; no caminho espiritual, bem como no caminho de nossa
humanização, precisamos aprender a descobrir a pérola nos ferimentos da nossa
própria biografia.
“Onde
estivermos quebrados, onde estivermos feridos, lá também se quebram as máscaras
que usamos. Somos quebrados para revelar nosso eu verdadeiro” (Henry Nouwen).
Hildegarda de
Bingen vê o propósito dos processos da humanização justamente na transformação
dos ferimentos em pérola.
Viver
é desafiador na medida que viver é buscar um sentido para a própria existência.
A dinâmica da busca marca a caminhada humana e define os rumos da
vida. Vive-se em permanente busca e só à medida que se vive para buscar é que a vida se torna, de verdade, vida, com
mais sabor e sentido. O que se busca define e determina o que é a
vida da pessoa. “Diga-me o que buscas e dir-te-ei quem és”.
No
interior de cada um ficou aguçada a dinâmica da busca, aquela que
mantém a vida de todo coração e o incita na busca do que vale, do que conta e
do que é essencial. O coração humano foi feito para encontrar a razão mais
profunda do seu viver; há uma inquietude latente em seu interior que o faz
peregrino do sentido. Tão fundamental como é o respirar, toda pessoa precisa
assumir sua condição de navegadora do infinito. Somos, por natureza, eternos
buscadores e garimpeiros do novo.
A vida se
torna mais vida na medida que se vive para dar razão a essa busca.
Uma busca que exercita o coração e o modula na sinfonia amorosa
do coração de Deus. Ele é a única e completa razão da busca do
coração humano.
Todo
ser humano é aventureiro por essência; com ardor, ele anseia por
uma causa última pela qual viver, um valor supremo
que unifique a multiplicidade caótica de suas vivências e experiências, um projeto
que mereça sua entrega radical. Para dar sentido à sua vida e realizar-se como
pessoa, o ser humano necessita da auto-transcendência, isto é,
viver para além de si mesmo, de seus impulsos, caprichos, desejos...
Carrega
dentro de si a sede do infinito, a criatividade, a capacidade de romper
fronteiras, os sonhos, a luz...
Portador
de uma força que o arrasta para algo maior que ele... não se
limita ao próprio mundo; traz uma aspiração profunda de ser
pleno, de realização, de busca do “mais”...
Estar
em busca é sair do próprio ser atrofiado pelas preocupações individuais
para mover-se num horizonte maior; estar em busca é perguntar-se, é estar aberto para ser tocado pela mais profunda das
graças: a gratidão diante de Deus.
É
importante ter claro o que é que se busca. No supermercado da
vida pode-se buscar tudo. As ofertas são muitas. Às vezes
corre-se o risco de perder o rumo, não perceber o que é e onde está o essencial,
apegar-se ao que é passageiro; com isso, a busca desemboca em
algo sem sentido, vazio.
É
difícil a tarefa de buscar quando alguém se encontra acomodado e
satisfeito de tudo e, ao mesmo tempo de nada. Então, para quê buscar? Como
despertar e alimentar a sede da busca?
Toda
busca inclui a purificação de motivações para permitir o encontro
de tudo o que garante e promove a vida. É exercício de discernimento
constante: “o quê busco? Por quê busco? Tem sentido e valor aquilo que
busco? Para onde me leva a força da busca?...
É
preciso buscar sempre. Importa, pois, buscar o que
dá garantias de fecundidade para a vida.
Porque busca,
desperta também nos outros o “ser buscador” que está escondido.
O
desejo do encontro é força determinante para se manter acesa a
chama da dinâmica da busca.
A
pérola que é buscada, justifica, com razões de sobra, o esforço e a recompensa
do encontro. Vale a pensa buscar o que é importante e encontrar
aquilo que responde às razões mais profundas da busca.
No caminho do seguimento de Jesus,
a busca é um dinamismo determinante da mente e do coração de cada
um. Aquele que busca, movido por um espírito de aventura e por
uma causa, quando encontra, vibra de alegria, como a parábola do buscador de
pérolas.
Somos
continuamente desafiados diante da grandeza da vida.
Por
isso, buscar torna-se um hábito de vida.
Não
é a busca de uma coisa qualquer. Busca-se pela
força do amor.
Só
o amor faz buscar o que vale a pena encontrar. Quem busca por amor encontra o
essencial, o tesouro.
Texto bíblico: Mt. 13,44-46
Na oração: seu coração é portador da força insubstituível da busca.
- o que você está
buscando?
Padre Adroaldo, sj
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