Os fundamentos da
justiça, que implicam atos de verdade e conformidade das ações das pessoas com
a vontade e o querer de Deus, estão contidos no Decálogo ou Dez Mandamentos,
entregues a Moisés no Monte Sinai. Essas Leis foram dadas porque o povo não
conseguia mais ler em seu coração as orientações do Senhor, que eram passadas
natural e oralmente de geração para geração.
Na visão bíblica,
para aquelas pessoas que realmente se corrigem das faltas cometidas, a
misericórdia vai além da prática da justiça. Foi o caso da mulher adúltera do
Evangelho (Jo 8,1-11), apresentada a Jesus por um grupo de homens. Ela deveria
ser apedrejada conforme as normas do tempo. Mas Jesus disse: “Quem dentre vós
não tiver pecado atire a primeira pedra”.
Existe a exigência
do cumprimento da Lei, mas isto não impede à autoridade de agir com
misericórdia. No caso da mulher adúltera, nenhum foi capaz de atirar pedras e todos
foram embora. Então Jesus disse à mulher: “Eu também não te condeno. Podes ir
e, de agora em diante, não peques mais”. A misericórdia supõe mudança,
compromisso e prática da justiça.
A justiça dos
homens é muito condenatória, diferente da justiça divina, que faz um julgamento
de misericórdia. Mas Deus exige mudança de vida, pedindo a pessoa para tomar
outro rumo na caminhada e não ficar repetindo situações de injustiça. É a
mudança que o mundo, principalmente o Brasil, precisa fazer, porque, sem isto,
é impossível pensar na misericórdia divina.
A imagem que
temos do Brasil dos últimos tempos é de uma verdadeira confusão. A prática da
injustiça está institucionalizada em nosso país, atingindo as diversas camadas
da população, provocando sentimento de desespero e revolta em muita gente.
Falta sinceridade na ação econômica e na postura política. Basta ver o clima
vexatório dos últimos dias no cenário nacional.
É crise
econômica, ou crise de injustiça, de descumprimento dos princípios da justiça?
Sabemos que nem tudo está perdido, mas necessitamos com urgência de lideranças
que sejam realmente bem intencionadas e comprometidas com a verdade e a
justiça. O país é capaz de sair do caos, porque tem potencialidade em todos os
campos, mas precisa formar melhor suas lideranças.
Dom
Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo
de Uberaba - MG.
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